Ok… um pouco melhor da DPV (depressão pós-volta), e nada melhor para me animar do que me debruçar no meu querido blog.  Reviver, relembrar e compartilhar cada experiência, cada canto por onde passei, traz saudade mas ajuda. E fico feliz quando algum post ajuda ou inspira um leitor.

Bordeaux, é claro, faz a gente imediatamente pensar em vinhos. E a grande maioria dos passeios e atividades propostas pelo escritório de turismo da cidade, tem o vinho como protagonista.

Nossa primeira degustação dos vinhos de Bordeaux, foi além de inesquecível, uma aula de história e geografia. E a partir desse momento, um simples gole de vinho, vem acompanhado de muitas outras informações e sensações.

Agendamos a degustação no Office de Tourisme de Bordeaux, em Quinconces. O escritório de turismo era o  ponto de encontro com a nossa guia e nosso grupo de 10 pessoas. Claudine chegou pontualmente e fomos a pé, a um pequeno restaurante, segundo ela, “escondido” numa das estreitas ruas do centro antigo de Bordeaux. Claudine nos acomodou e em inglês e francês, começou a explicar o que viria pela frente e como seria nossa experiência: Vinho e queijo, uma iniciação à degustação do vinho.

Como é a iniciação à degustação de vinhos e queijos em Bordeaux

VIN & FROMAGE, initiation à la dégustation de vin

Assim que nos sentamos no restaurante, Claudine começou nos mostrando o mapa dos vinhedos de Bordeaux. Le vignoble de Bordeaux é o conjunto de todos os vinhedos do departamento da Gironde (departamento na França, seria mais ou menos o que é um estado aqui no Brasil).

80% da produção é de vinho tinto (vin rouge) e 20% de vinho branco branco (vin blanc), incluindo o vinho branco seco, os deliciosos sauternes (licorosos), e os rosés.

A esta altura, estávamos todos literalmente com água na boca, já que até este momento, ainda não havia vinho em nossas taças. Apenas água.  Mas eu que adoro história, saboreava cada palavra que Claudine com seu delicioso francês “bordelais” e seu inglês afrancesado pronunciava.

O estuário da Gironde (que se forma pelo encontro dos  rios Garonne e Dordongne) divide a região de Bordeaux em três áreas distintas, a margem esquerda, margem direita e entre elas, a entre dois mares (entre-deux-mers).

Em cada margem ficam várias appelations. Appelation? O que é isso?

O que é uma appellation?

Appellation d’origine controllée AOC- É um certificado de origem que, no caso dos vinhos, significa que absolutamente tudo é legalmente controlado naquele determinado vinhedo. Limites geográficos, terreno, qualidade do solo, quantidade e qualidade das vinhas, uvas, produção, armazenamento, engarrafamento… tudo é controlado e certificado pelo < Institut National des Appellations Controllées>, um braço do Ministério da Agricultura da França. É obrigatório constar a appellation no rótulo do vinho, que é quase uma carteira de identidade.

Appellations de Bordeaux

Bordeaux e Bordeaux supérieur – os vinhos dessas “appelations” podem ser produzidos em qualquer região dos vinhedos de Bordeaux, e compreendem mais de 50% da produção.

Margem esquerda: Haut Medoc, Bas Medoc, Pessac-Léognan, Graves, Sauternes e Barsac e Ceron

Entre-deux-mers: Loupiac, Saint-Croix-du-Mont, Saint-Foy-bordeaux, Cadillac, Côtes de Bordeaux St Macaire, Premières Côtes de Bordeaux, Graves de Vayres

Margem direita: Saint-Emilion, Pormerol, Lalande-dePomerol, Fronsac e Canon-Fronsac, Côtes de Blaye, Côtes de Castillon, Côtes de Franc, Côtes de Bourg

E a aula, deliciosamente prática, nos foi dada por Claudine, enquanto abria a preciosa garrafa.Enfim, chega a hora da degustação!

Degustar é muito mais do que beber um vinho. E em Bordeaux, naquele pequeno restaurante, eu finalmente entendi porque eu gosto tanto dessa bebida. Degustar envolve muito mais do que o paladar.

Degustar um vinho é diferente de beber…

Ao mostrar a garrafa, Claudine nos explicou que era preciso abrir com antecedência para que o vinho respirasse. Quanto mais jovem é o vinho, mais tempo ele precisa respirar para liberar os aromas.  Meia hora é suficiente para um vinho maduro. Ao colocar na taça, é só aquele tantinho mesmo. Só 2/3 et voilà! Sem nenhuma intenção de escrever um guia, resumidamente, a degustação é feita em fases.

Olhos para ver:  ok! essa parte talvez seja a mais difícil. Controlar a vontade louca de dar aquele gole maravilhoso! Mas… olhe para o vinho! Veja a cor, a transparência, e o brilho. Cada um desses atributos fala sobre o vinho. Na aula aprendemos que quanto mais jovem, mais violeta é o vinho. E sem mexer a taça, cheire o vinho.

Olfato: esse momento sempre foi um pequeno enigma para mim. Pois Claudine nos explicou, que essa primeira inspiração, chama-se < le premier nez> , ao pé da letra, o primeiro nariz. Depois é fazer o vinho rodar na taça para liberar mais aromas, e cheira-se novamente.

Enfim, o primeiro gole! que deve ser em pouca quantidade, e logo em seguida, devemos respirar entre os lábios, e aí é ficar atento aos primeiros sabores. Depois é fazer o vinho rodar na taça para liberar mais aromas, e cheira-se novamente.

Daí em diante, foi praticamente uma festa. Logo em seguida fomos convidados a conhecer a cave de queijos no subsolo do restaurante e escolher alguns para degustar com os vinhos.

Um paraíso para os queijóltras!

O único senão foi o tempo. No melhor da festa, fomos informados que o restaurante estava com as reservas cheias para o jantar e que deveríamos ir “resumindo” as atividades. E claro que ninguém queria ir embora no melhor da festa.

Vale a pena? Sinceramente sim. Apesar do final apressado, foi um bela introdução à degustação, principalmente para quem não é expert no assunto, mas quer aprender a apreciar um bom vinho. E uma aula de degustação em Bordeaux, cá entre nós, é a combinação perfeita. Mas para quem já sabe como degustar um vinho, talvez seja repetitivo.

Nosso próximo passeio seria aos vinhedos na região de Saint Émillion. Ansiedade em níveis máximos!

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