Chegamos a Trafalgar Square às três da tarde. Tomamos um café e fomos direto e reto ao ponto. Reconhecimento da área para nos assegurarmos de escolher o melhor lugar. Ainda era cedo… Pessoas, turistas “normais”, guardas e carros ainda perambulavam como se nada fosse acontecer por alí. Chegando ao Big Ben, checamos os melhores lugares, a melhor vista, e nos decidimos por ficar na margem em frente, pois na Westminster Bridge, o vento era de cortar orelhas e gangrenar as mãos, muito antes do ano novo chegar.
Acho que naquele momento, só nós duas tínhamos segundas intenções. As outras pessoas normais estavam só passeando mesmo.
Me dei conta que tínhamos chegado muito cedo e que teríamos que preencher esse tempo com alguma atividade. Guardas começaram a chegar por toda por toda a parte, colocando grades, e os luminosos mostrando como voltar pra casa e desejando um Ano Novo maravilhoso…
Fomos então passear um pouco, e testar nossas roupas térmicas. Continuávamos nos gabando de estarmos aquecidas e preparadas para o evento.
Um pulinho em County Hall, banheiro no Mac Donalds (o ultimo xixi do ano!) e às 5 horas da tarde, nos posicionamos em primeiro lugar, junto a grade em frente ao Thames, como se fosse absolutamente normal, esperar em pé, por sete horas(!!!)um evento que temos em frente à nossa casa no Brasil.
Tudo muito calmo, organizado, sem empurra-empurra, centenas de guardas, crowd safetys, motociclistas, banheiros químicos, e muita gente chegando. Sortudos que teriam a oportunidade de estar ali, pois assim que estivesse razoavelmente lotado, os guardas fechariam a chamada “viewing area” e absolutamente ninguém mais poderia entrar.
As 6 da tarde, que aqui ja é noite fechada, pensei em comprar um café, mas desisti vendo a aglomeração na Westmisnter Bridge e imaginei minnha filhota perdida sem mim e eu sem ela! Naquela multidão de nada adiantaria um celular. Voltei imediatamente ao meu posto, e mesmo faltando 6 horas para o grande momento, continuei achando que era normal…
Uma moça ao nosso lado, animadíssima, se apresentou. Uma brasileira que reside em Uk, mas fora de Londres desde 2003, nos contou com os olhos brilhando que todos os anos está la sem falta. Este ano, nenhum amigo quis ir, e ela, mesmo sozinha, estava lá. Nos disse que seriam 10 minutos de puro êxtase, e que estávamos no melhor lugar, pois dalí poderimos ver o show de luzes durante a contagem regressiva.
Não posso descrever com riqueza de detalhes, 6 horas de espera, vendo a multidão chegar, debaixo de um frio de 0 grau, sensação térmica de – 5 devido ao vento gelado do Tâmisa. Cada badalada do Big Ben eu dizia: Faltam menos 15 minutos… para quê mesmo?
Devo confessar que foi a animacão e o papo descontraído e encorajador com a moça que nos envolveu numa espécie de torpor e fez o tempo passar sem que desistíssemos. O total congelamento do cérebro, impossibilita que você tome a decisão mais lógica (sair correndoooo!) e permaneça durante 6 horas vendo London Eye trocar de cor, numa especie de aquecimento para o grande momento. É lindo mesmo, mas pensando bem, é uma loucura, aquela gente toda, congelando, durante horas pra ver dez minutos de foguetório. Pura lobotomia!!!
Às oito da noite, começou a música com uma seleção comandada pelo DJ da BBC.
-Hello London!!!!! Guess what? Let’s Have some fun!!!!
A moça ao nosso lado, disse que este ano estava muito mais legal, pois agora tinha música. Imagina sem???
A esta altura, meus pés se despediram do meu corpo e o patch que deveria aquecer em contato com o ar, virou uma pedra gelada entre a bota e as três meias que desapareceram com o frio, que até mesmo a BBC classificou de “freezing”. Eu…. portava um gorro do meu genro, o que me transformou numa espécie de mano, desses que cantam RAP em São Paulo. Nos sacudíamos ao som da música, pra retomar a circulação perdida. Inventei uma danca meio aborígene, com passos desconexos, mas eficaz contra o total congelamento dos membros inferiores e uma possível tragédia. No pouco espaço que tínhamos, era tudo que podíamos fazer.
10 horas da noite. Neste momento, voce não pode fazer mais nada. Não há como desistir. Há um massa humana entre você e a liberdade. É melhor se animar, sendo a primeira da fila de camadas de pessoas, que terá a melhor visão do espetáculo e continuar a se sacudir. Afinal só faltam duas horas. Para quê mesmo???
Comemos nosso sanduiche de salmão, que apesar da aparência assustadora, estava geladinho e uma delícia! Revigorante. Mas nada de liquidos. Apenas uma leve umedecida nos lábios… se não, pode ocorrer o maior terror da festa: vontade de ir ao banheiro.
Enfim 11 horas. A multidão ja estava toda lá. Italianos, búlgaros, holandeses, portugueses, dinamarqueses, a europa inteira. E lógico!!! Brasileiros cantando o hino do Flamengo. Ninguém merece!
11:50
Finalmente, começa algum movimento, e uma música hipnótica começa a tocar sincronizada com um show de luzes que deslizam pela roda. Numa espécie de catalepsia coletiva, começa a contagem regressiva e todas a vozes chegam ao zero. As doze badaladas do Big Ben soam…
Um show maravilhoso de fogos espoca e durante 10 minutos sucumbimos ao êxtase. A roda se transforma numa visão, num olho luminoso e incandescente.
Quando tudo termina, me surpreendo comigo mesma. Ainda existe vida inteligente, e finalmente quando começamos a nos movimentar para ir embora, me dou conta que estou estranhamente viva. A circulacão volta e preciso andar, encontrar forças e um meio de transporte para voltar para casa. Restos de todo o tipo de alimentação e bebida alcoólica pelo chão. Pessoas em estado lastimável deitadas ou amparadas por amigos igualmente bêbados. Guardas sorridentes indicando o caminho para um possível retorno ao lar. E você deseja ardentemente que um dispositivo de teletransporte opere um milagre. Quilômetros à frente, descobrimos um ponto de ônibus que vai para algum lugar. Pura ilusão, desce do ônibus e anda mais um pouco… só mais um pouco. Metrô finalmente!!! Mais duas conexões e mais um ônibus estamos em casa!!!
LONDON EYE NEW YEAR’S EVE!
Um ritual tribal coletivo de superaçâo e persistência.
Uma experiência inesquecivel. Valeu a pena? Valeu!!!!
Para quê mesmo????
Pingback: Mala de Rodinha e Nécessaire | New Year’s Eve at London Eye!
Irei mais cedo então! Muito obrigada!
Depois me conta tudo!
Pode deixar! 😉
Nossa, já é a terceira vez que leio seus posts sobre a virada do ano na london eye e, agora que falta pouco para minha viagem, meus olhos encheram de lágrimas ao me imaginar lá. Estou super ansiosa pra chegar a minha vez de cometer uma gélida loucura. Gostaria de saber quantas camadas de roupa você colocou? 18h está de bom tamanho pra chegar e ficar bem na frente?
Muito obrigada pelo post!
18? Acho meio tardeB-) ! A essa hora, qdo fui os melhores lugares já estavam lotados.
Rachel, agora respondendo com calma, o frio e’ forte por causa do vento que vem do Tamisa. O melhor e’ um bom casaco imperme’avel que nao deixa o vento passar. Luva, cachecol e gorro sao imprescindiveis. O melhor lugar e’ na margem em frente a London Eye e por isso o povo chega muito cedo mesmo para poder ver alguma coisa. Vai na fe’!
Apesar de todo o frio, acho que é experiencia para contar para os bisnetos (hahaha!!!). Fico feliz de vc estar curtindo a viagem.Continue contando as historias, estão otimas.Quando vcs voltam?Mil beijos para vcs e um beijo na testa de Dani, pois estou sem ver ele há 2 anos.Felis 2009!!!pat