Em 2009 estávamos numa situação bem diferente da atual. Economia forte, euforia consumista, operações de pacificação nas comunidades onde o estado não conseguia entrar. Um quadro de esperança. De lá para cá, no entanto, o sonho ruiu. O Brasil viu suas entranhas mergulhadas na corrupção, o estado do Rio faliu, a violência escalou, a inflação ganhou várias medalhas de ouro, e a saúde, caso de polícia. Polícia que recebia os turistas no aeroporto com um cartaz: Bem vindo ao inferno! O transporte público, uma vergonha. A vida do carioca virou uma maratona caótica devido às obras necessárias à realização das Olimpíadas em meio a uma crise sem precedentes.
Em 2010 e 2011 estive em Barcelona. Uma cidade parecida com o Rio de Janeiro em alguns aspectos: cidade litorânea, centro histórico, porto e… sediou os Jogos Olímpicos em 1992. Fiquei maravilhada! e apesar de um tanto cética, pensei -Seria um sonho ver todas aquelas transformações aqui no Rio! E pelo menos uma, eu fui conferir de perto: a transformação da zona portuária, que assim como em Barcelona, era degradada, perigosa e esquecida. A nossa, ainda por cima, ficava embaixo de um viaduto escuro e pichado, que em parte foi implodido, o famigerado Elevado da Perimetral.
Para quem como eu, usou ou usa muito “as Barcas”, meio de transporte marítimo entre Rio e Niterói, encontrar a Praça XV, aberta e tendo como limite apenas o céu (também ficava embaixo do tal viaduto) foi uma grata surpresa. E precisei desenhar um novo mapa mental dessa área.
Todo o cenário cultural do centro do Rio ficou incrívelmente conectado: Paço Imperial, o Centro Cultural do Banco do Brasil, que sempre tem expos maravilhosas, ali do lado da Candelária, coladinha à Casa França-Brasil, e mais uns passinhos tem o Centro Cultural dos Correios. E indo pelo Boulevard estão o Museu do Amanhã, o MAR e ainda por inaugurar o mega AquaRio. É programa que não acaba mais!
Agora em plena olimpíada, a tradicional festa brasileira está no auge. E o que vi, em plena segunda-feira e no sábado seguinte, foram muitos, muitos cariocas e famílias de brasileiros recuperando o prazer de passear no centro do Rio de Janeiro com uma sensação quase esquecida: segurança. Tanto que voltei com a família que eu vi nascer, esses meus amigos tão queridos!
Orla Conde
A Orla Conde vai da Candelária (onde está a Pira do Povo- foto acima) à Praça Mauá. Era um pedaço perigoso, feio, e nunca me imaginei passeando por alí fotografando o visual. E que visual! Todo um novo ponto de vista e visões maravilhosas se descortinaram depois das obras. Estava tudo lá escondido!
Uma orla todinha nova e linda!
É um passeio de descobrimentos. Um grande pedaço dessa orla é da marinha e não era aberto ao público. E depois de uma ponte entre a orla e o Museu da Marinha…
Ele! O Museu do Amanhã!
Confesso que achava a construção estranha. Mas pessoalmente ele, o museu, é impactante. De alguns ângulos parece flutuar no mar.
Sendo a construção toda projetada sobre a água, o museu tem sua própria orla.
Lindo sob todos os pontos de vista.
De todos os ângulos…
E claro é impossível não fazer uma avalanche de fotos.
Filas quilométricas…
Logo alí, as enormes e disputadíssimas letras “à la Amsterdam“, CIDADE OLÍMPICA.
E continuando pelo Boulevard, chegamos à Parada dos Navios, onde estão os antigos e agora renovados armazéns, embora a maioria ainda não esteja sendo usada.
Aqui, devo dizer, ainda falta infra-estrutura e acredito que se tudo der certo, já já teremos muitos restaurantes como em Puerto Madero em Buenos Aires. Por enquanto, alguns foodtrucks e barraquinhas de fastfood, mas ainda está muito precário se acomodar para comer, principalmente se o sol estiver bombando.
Aqui encontramos o Tram, oops, o VLT. Quando estive em Bordeaux, fiquei absolutamente fascinada como o transporte da cidade se resolvia entre os Trams, ônibus e microônibus. Montpellier, Amsterdam e Paris e tantas cidades da Europa investiram nesse meio de transporte
E ver um desses aqui em terras cariocas é mais do que um sonho! É civilizado, fácil acesso, silencioso e chique! Ainda mais que finalmente teremos um meio de transporte público para sair do aeroporto Santos Dumont ou da Rodoviária e chegar ao centro, Copacabana, Ipanema ou Barra, simplesmente fazendo a conexão com o metrô. Fantástico!
Mais chique ainda é esse cenário. Cenário? É simplesmente um gigantesco painel em grafite, executado pelo Kobra . Etnias é o nome. É daquelas coisas que tem que se ver com seus próprios olhos.
Em pensar que isso aqui era quase o fim do mundo!
Então vamos às dicas para melhorar o passeio:
1- Protetor solar e chapéu, boné ou viseira. As árvores ainda são meras e tímidas mudas. E mesmo no nosso “inverno” com termômetros mostrando uma temperatura inacreditável de 22 graus, o sol é inclemente e sinceramente a sensação térmica nos dias em que fui era de mais de 30. É como estar na praia, só que vestida e sem poder mergulhar.
2- Leve água e um lanchinho. Principalmente se estiver com crianças. Por incrível que pareça, a oferta de algo para comer é escassa, e pior ainda, encontrar locais para se acomodar e fazer um “pitstop”. Vários foodtrucks fechados. Tudo que encontramos foi sorvetes, cerveja e coca-cola, vendidos em carrinhos refrigerados. Os únicos ombrelones são sobre os pontos de venda e não para o público. Achar uma sombra é quase impossível.
3- Carregue seu cartão de transporte com antecedência, se quiser andar de VLT. Nada é perfeito em se tratando de Brasil. Em pleno Sábado, com o Boulevard duro de gente, comprar ou carregar um cartão era uma prova olímpica! E o inacreditável, já que estamos falando de um espaço aberto principalmente para os Jogos Olímpicos, quando turistas do país e do mundo inteiro estão aqui: as máquinas de auto-atendimento não aceitam cartão de débito/crédito e não dão troco!!! Com a passagem custando R$3,80, mais parece uma caça-níquel do que um equipamento para facilitar a vida do usuário.
4-Bateu aquela fome! Bem como eu disse, ainda não tem uma infra à altura. Mas alí pertinho há ótimos e tradicionais restaurantes. Um quarteirão em direção à Rua Primeiro de Março, e pimba! Na Rua do Mercado há vários. Almocei na segunda-feira no excelente Cais do Oriente.
Já no sábado, encontramos uma pequena fila, mas conseguimos “fechar os trabalhos” num delicioso almoço na Brasserie do Rosário.
Algumas considerações:
-Infelizmente nem tudo é renovação. Implementaram um transporte de primeiro mundo, mas… falta planejamento. No sábado por exemplo, conseguir um espaço dentro do VLT era quase impossível. Não sei se há trens suficientes mas o intervalo entre um e outro era de mais de 20 minutos, o que claro, gerou aquela baixaria na hora de entrar nos vagões, tão comum no metrô. Nas estacões, um constante apelo dos funcionários para que a população não ultrapasse a zona de segurança, desrespeitada à medida que mais demora a composição. E sim, ainda é necessário pedir (exigir) licença, para entrar com um carrinho de criança e estacioná-lo no lugar a ele destinado.
-Indo de VLT até a Rodoviária, a impressão que a gente tem é que mudou de cidade. Está tudo ainda por terminar, entulho, buracos e muita poeira. A cidade olímpica por enquanto não chegou por esses lados e me pergunto se chegará. Sabe aquela paisagem fim de mundo… Garrafas pet boiando em poças d’água? Senti vergonha quando vi turistas carregando malas e tentando andar por calçadas esburacadas ou inexistentes.
-No verão, temperatura média de 37 a 40 graus, vai ser difícil suportar a sensação térmica. Será que até lá alguém vai pensar em mais sombras?
Concluindo: Sim! O centro da cidade foi redescoberto, revitalizado, embelezado e isso é realmente um legado inegável. O lugar tem tudo para ser um forte atrativo turístico e um espaço de lazer para os cariocas. Mas é necessário e imprescindível que haja manutenção do espaço físico e principalmente da segurança, depois de terminados os Jogos. Caso contrário, corremos o risco de perder todo investimento feito para um real legado e ficarmos com um “largado” olímpico como herança.
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