Acessibilidade no Turismo

Acesso à aeronave - escada de avião - Ryanair

Acesso à aeronave – escada de avião – Ryanair

Tenho o maior prazer e o dever de participar dessa discussão, cujo tema foi levantado pelo Turismo em Debate por Maurício de Oliveira, CEO do blog Trilhas e Aventuras: Acessibilidade no Turismo Nacional. E lendo alguns dos posts e a transcrição do debate via Twitter, conheci a Laura Martins, do blog a A Cadeira Voadora, e a frase mais marcante com a qual concordo pleanamente, inclusive por experiência pessoal:

“Em algum momento da vida, todos teremos alguma deficiência. Gestantes, idosos, bebês, pessoas que fraturaram um membro: todos têm ou terão alguma limitação, alguma necessidade especial. Não seria melhor que preparássemos nossas cidades para todos? “

E acho o momento perfeito para essa discussão, uma vez que estamos às vésperas de eleger aqueles que irão governar nossas cidades! Alguém já ouviu essa pauta como promessa de campanha?  Tornar a cidade acessível para todos? E agora é o momento pois o Brasil, está se preparando (?) para receber eventos esportivos internacionais! No Rio e em Niterói, cidades onde transito, tomar um simples ônibus urbano, já é turismo de aventura, envolvendo escalada, corrida de obstáculos e noções de surf.

Mãe com carrinho de bebê para gêmeos num ônibus de Londres

Mãe com carrinho de bebê para gêmeos num ônibus de Londres

ônibus urbano em Londres: lugar reservado para cadeira de rodas e carrinhos de bebê.

Basta ter um bebê em seu carrinho para que a mãe tenha necessidades especiais e fique completamente cerceada no seu direito de ir e vir. Me pergunto: – Qual a dificuldade em ter ônibus que permitam a todos se deslocarem pela cidade sem dificuldades e obstáculos quase intransporníveis? Por que em Londres é possível e no Brasil não? Alguma tecnologia extremamente avançada que não conseguimos desenvolver?

Ônibus urbano - Londres - espaço reservado a carrinhos de bebê e cadeiras de rodas

Ônibus urbano – Londres – espaço reservado a carrinhos de bebê e cadeiras de rodas

E para ilustrar esse post inaugural sobre o assunto, o depoimento da mais nova colaboradora do blog – Soraya Bragança, uma viajante experiente que tem muito a contar sobre esse tema.

ACESSIBILIDADE E TRANSPORTE AÉREO:  COMUNICAÇÃO DIFÍCIL

Fala-se muito em inclusão social, programas de acessibilidade, cidadania consciente.   Mas na prática, será que realmente conseguimos sair do discurso?  Posso garantir que nos falta muito caminho a trilhar para se ter, no Brasil, uma efetiva politica de inclusão.   E no turismo a distancia é maior ainda.  Os exemplos são inúmeros e minhas experiências comprovam isso, pois tenho mobilidade reduzida e viajo muito, mas muito mesmo. Poderíamos falar sobre os inúmeros problemas enfrentados ao se iniciar uma viagem, mas como não poderemos escrever um livro aqui, hoje, vou me restringir aos aeroportos.

No Brasil, nenhum aeroporto está preparado para atender pessoas com mobilidade reduzida. Há um total despreparo para atender e entender o grande leque de variantes que pessoas com mobilidade reduzida podem apresentar.   Normalmente eles reduzem toda essa gama de variações para a realidade dos cadeirantes.  E aí já enfrentamos o primeiro grande problema: o check-in.  Há em cada companhia aérea um ou dois guichês preferenciais, no máximo, que incluem idosos, mães com criança de colo, portadores de necessidades especiais, gestantes.  Estas filas, que deveriam ser de pouco tempo de espera, comumente demoram mais do que as filas normais. Para alguém que caminha com dificuldade e que tem dificuldade de ficar períodos longos em pé já se inicia o sofrimento com o descaso e o despreparo do nosso sistema de transporte aéreo.

Segue-se o deslocamento até a sala de embarque.  Longas distâncias que devem ser vencidas sem a ajuda de esteiras ou carrinhos de passageiros, pois nossos aeroportos economizaram ao máximo nos espaços internos dos corredores  e das salas de embarque.  E temos que rezar para não termos que nos deslocar apressadamente para outro portão “por motivo de reposicionamento de nossa aeronave, o embarque, quando autorizado, se realizará no portão X”  e que geralmente é do outro lado do aeroporto.

O embarque é anunciado e são chamados os clientes preferenciais.  Normalmente isso é só o comprimento de uma fala padrão, que na prática inexiste, tanto para os agentes da companhia como para os outros passageiros.  Cidadania ZERO.  Mesmo quando entram primeiro os portadores de necessidades especiais e as mães com crianças, os agentes não consideram o tempo necessário para se vencer a distância até a aeronave e logo temos a sensação de sermos  atropelados pelos outros passageiros  que querem  garantir seus compartimentos de bagagens.  Imagina se o acesso for por escada, a coisa complica mais ainda.

Por fim estamos no avião.  E esta foi a primeira barreira apenas que teremos que vencer.  Mas as outras ficam para futuros posts, onde contarei como uma passageira cadeirante caiu no corredor da aeronave, cadeirantes que foram esquecidos em aeronaves e muitos outros relatos nos ajudarão a dar uma visão real de todos os problemas e obstáculos que  temos que enfrentar.

Soraya Bragança, Doutora em Teoria da Literatura.

E você? Tem alguma experiência sobre esse tema?  Você ou alguém que você conhece tem alguma história para contar? No Brasil ou no exterior?  E como é o transporte público na sua cidade? Gostaria muito da sua contribuição! Com toda a certeza esse assunto estará sempre presente aqui no blog e quanto mais experiências e relatos, mais forte fica a “luta’.

5 comentários em “Acessibilidade no Turismo

  1. Que postagem magnífica.
    Escrita a quatro mãos super sincronizadas.
    Parabéns às duas!

    Estou divulgando, como sempre, mas hoje, feliz de um modo muito “especial”.

    beijos

  2. O problema é que as pessoas só pensam nisso quando estão com alguma dificuldade de locomoção. Ninguém imagina como é difícil viajar com crianças, por exemplo, até viajarem com uma (ou duas, ou mais). Imagine quando a pessoa tem alguma deficiência física!
    Pequenos detalhes como calçadas e ônibus adaptados, banheiros especiais, elevadores, portas mais largas, etc são completamente ignorados. Aqui além das esteiras rolantes nos aeroportos, tem uns carrinhos tipo de golfe com funcionários pilotando e oferecendo carona para pessoas com crianças ou dificuldade de locomoção, você coloca as malinhas em cima e ele te leva até o portão de embarque.
    Essa questão de chamar os passageiros preferenciais para embarcar primeiro e ninguém respeitar, me desculpe, mas é um problema do brasileiro. Aqui (em vôos para o Brasil) e no Brasil, quando eles chamam os preferenciais para embarcar, um monte de brasileiro que não se enquadra no perfil levanta e tenta embarcar. No Brasil, muitas vezes embarcam sem maiores problemas na frente dos preferenciais. Aqui os funcionários das companhias mandam sair da fila e esperar sua vez.
    O Brasil ainda precisa mudar moooito! Bjs

  3. Cel, parabéns pelo post e pela nova colaboradora! Nossas rodoviárias, aeroportos e transportes precisam de muito investimento em estrutura para incluir todos os cidadãos que pagam seus impostos igualmente. Quem sabe a realização desses grandes eventos contribua para melhorar a atual situação. Meu receio é que o dinheiro escoe pelos ralos da corrupção como de costume.

  4. Gina, você tocou num ponto importantíssimo! Nossas ruas e calçadas são verdadeiras armadilhas! E o aeroporto de SP é um pesadelo! é por isso que cobram da gente 6,5% sobre o cartão de crédito no exterior, para que a gente paque o luxo!

  5. Muito pertinente esse assunto uma vez que teremos eventos importantes nos próximos anos. O bom é que as mudanças (para melhor) ficarão para os “donos da casa”.

    No aeroporto de Toronto tem mais de uma esteira rolante (enooorme) que facilita o deslocamento dos passageiros e sua malinha, até o local de embarque.
    Tudo que foi relatado no post é a mais pura realidade. Quando cheguei em SP, andei de um lado a outro do aero arrastando a malinha até o embarque doméstico. Sem contar que o “portão” mudava toda hora de lugar! (7, 5, 3, 1A…). Como um cadeirante aguenta isso?
    Inclusão? Será que “eles” sabem o que isso significa?
    Escadas, calçadas sem rampas, valetas, buracos e todos os obstáculos que atrapalham a vida dos pedestres estão espalhados pela cidade. Metrô na minha cidade? É um sonho! Só andei de metrô fora do país.
    Teremos muito assunto para discutir. Com certeza!!!rsrs
    Acorda Brasil!!!

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