Domingo passado enquanto lia alguns jornais daqui, me deparei com a chamada: Get ready for the Solar Eclipse! e no final da matéria, uma lista dos lugares onde o maior eclipse solar em mais de sessenta anos poderia ser melhor observado. Em Edimburgo? Na Calton Hill, claro! Aliás o que não falta em Edimburgo é céu! Na mesma hora tive aquele surto: meu Deus! Vai ser aqui!!! Eu tenho que ver isso! E claro, fotografar também.
O fato é que eu adoro fotografar. Sou compulsiva. Mas… eu não sou fotógrafa. E para fotografar o sol, eu precisaria de várias coisas além da câmera. No mínimo, um tripé (que eu tinha deixado no Brasil) e filtros. Além é claro, de óculos para eclipse. Felizmente, a parte mais cara eu já tinha, a câmera e uma telephoto zoom lens (uma teleobjetiva).
E nesta fase de total contenção de despesas por causa do nosso câmbio desfaforável (ai que ódio!!!!!), eu não poderia gastar muito com equipamento. Mas na mesma hora em que li a reportagem, corri para a Amazon para ver o que conseguiria no espaço de 4 dias e razoavelmente em conta. Ou seja, os apetrechos teriam que chegar no máximo até quinta-feira. E tudo que é razoavelmente “em conta” em se tratando de fotografia é sempre desaconselhado por fotógrafos. Tensa!!!
Fiz então um trial do Amazon Prime, um serviço que promete que você receba as mercadorias em tempo record, além de poder ver filmes e pegar livros, etc. (durante o trial a gente não paga). Na segunda feira, nada! Mas na terça, o rapaz do transportadora bateu à minha porta e eu parecia criança em frente à árvore de Natal! Chegaram os filtros, os óculos de eclipse e o tripé.
Mas durante toda a semana, a dúvida cruel era: Será que o tempo vai permitir que a gente veja o evento com 98% do sol encoberto pela sombra da lua? Não há nada mais imprevisível que o tempo em Edimburgo. A semana começou com um a cidade mergulhada num fog denso, e continuou com o céu nublado e cinza. Às vezes eu tenho a impressão que os caras que fazem a previsão do tempo por aqui, fazem apenas a “observação”, e saem correndo para atualizar. Num único dia, temos todos os céus possíveis. Nubladíssimo, sol com nuvens, chuva e sol, super sol… às vezes tudo junto.
Na quarta feira, abriu um solzinho entre nuvens e fiz alguns testes com os filtros, através da janela aqui de casa. Sim! dava para fotografar o sol, com os filtros que eu tinha comprado.
Na quinta-feira à noite, arrumei tudo, e tasquei o despertador para às 6:30. Às 7:50, com um lindo dia de sol e céu azul, eu e Daniel, meu filho, já estávamos no ônibus para o centro da cidade. Várias pessoas estavam “armadas” para o evento. Claro que todo mundo queria assistir. Nos últimos quinhentos anos, só oito eclipses totais do sol puderam ser vistos do Reino Unido! Faz as contas!
Pelas ruas mais gente preparada: um casal com um telescópio gigante e muitas mochilas. Muitos tripés, câmeras com lentes estratosféricas e filtros caríssimos. Muita gente que tinha viajado para Edimburgo para ver o eclipse por aqui. E euzinha com os filtros baratex na bolsa…
Chegamos à Calton Hill, uma colina que fica no extremo leste da principal rua da cidade, e hordas de gente se dirigiam para o alto. Parecia uma festa. Mas nada de tumulto. Crianças, cachorros, gente com toalha de piquenique. E muitos, muitos fotógrafos.
Procuramos um lugar e armamos o “equipamento”. Assim que coloquei os “óculos de eclipse”, e olhei pelo viewfinder da câmera, bateu aquela emoção! Já havia começado… cliquei o na mesma hora, mesmo sem focar.
Mas o dia estava absurdamente limpo e diferente dos testes que eu tinha feito, precisei usar os três filtros juntos e ainda os óculos de eclipse, o que tornou a tarefa de fotografar uma cena meio cômica. E obviamente não gostei do resultado! Que graça tem fotografar um eclipse solar e ficar parecendo uma lua desfocada e photoshopada???
Começamos eu e Daniel, um trabalho de equipe, trocando e testando várias combinações entre os três filtros. Mas o fenômeno acontecia rápido!
Ventava horrores, e usando luvas grossas, com um mão eu tinha que segurar o tripé, com a outra os óculos de papelão, e ainda tentar focar e clicar com o disparador automático para não tremer a câmera.
Daniel assumiu a câmera e… Mãe! a bateria está acabando! Neste momento eu queria chorar! É lógico que eu tinha carregado a segunda bateria, mas ela ficou exatamente onde estava: no carregador em casa!! Comecei uma mentalização “energética”! Desligamos a câmera por algum tempo, enquanto eu tentava me auto-consolar. Pelo menos eu estou aqui!
Com a outra câmera, a Canon G1, fiz uma “cobertura” do que estava ao nosso redor. E para minha surpresa, os fotógrafos estavam reclamando da claridade!
Gente com todo tipo de equipamento à nossa volta. Celulares, “pinholes” (uma cartolina com um quadrado vazado que reproduz o formato do sol num papel), lentes poderosíssimas e até escorredores de macarrão!
E mesmo com o sol parcialmente encoberto pela lua, a claridade era mesmo absurda. Para ver o eclipse com conforto, eu tinha que colocar os óculos de eclipse por cima dos óculos escuros.
O mais esquisito foi quando começou a escurecer! De verdade! Como se fosse o entardecer. Foi a hora que era possível ouvir o silêncio.
E pouco antes do auge do eclipse, aconteceu o que ninguém queria, mas que na realidade foi o que ajudou todo mundo a conseguir as melhores fotos. Nuvens encobriram o sol, e serviram como um filtro natural!!! Assim como os testes que eu tinha feito em casa. E ligamos a câmera novamente.
Milagrosamente a bateria, mesmo piscando em vermelho, durou até o fim. E assim com menos 1 filtro na câmera, conseguimos fotos que mostravam o eclipse do sol, sem parecer uma lua branca numa noite escura.
E as nuvens continuaram até pouco depois do auge e fizemos essas:
Eclipse Solar 2015 – visto de Calton Hill – Edinburgh
E como eu sempre digo, quem tem só um corre o risco de ficar sem nenhum. Com a outra câmera, eu consegui minha foto favorita de todo o evento, clicando com a Canon G1 Mark II.
Obrigado nuvens!!! As fotos estão exatamente como saíram da cartão de memória da câmera. Não mexi em absolutamente nada.
Assim que acabou o eclipse, eu estava em êxtase. E o mais louco de tudo: céu fechou e ficou totalmente nublado. Parecia que tinha aberto somente para o espetáculo.
O evento durou de 8.30 até 10.45. E preciso confessar que eu estava energizada. Uma alegria estranha… O alinhamento de Terra, Lua e Sol deve ter algum efeito energético no ser humano. Ninguém foi embora assim que acabou. As pessoas ainda ficaram um bom tempo meio que sem querer que aquilo acabasse. E lá do alto, eu olhei para Edimburgo. A cidade que eu tanto amo e que não para de me surpreender.
Eu me lembro de algo relacionado a um eclipse solar quando eu era criança. Mas sinceramente não lembro da imagem. Estas do dia 20 de março de 2015, no entanto, vão ficar para sempre na minha memória. E você? Já viu um eclipse total do sol?
E antes que me perguntem, a minha DSLR é uma Canon D100, a mais leve e menor das câmeras e a outra é uma Canon G1 Mark II, que é maravilhosa e carrego para tudo que é canto. Tem na Amazon.
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Que emoção Celina! E ainda ver tudo isso nesse cenário deslumbrante que é Edimburgo.
Lembro de alguns eclipses quando criança, nenhum total. Mas a festa que fazíamos é o que guardo na memória até hoje.
Beijos
Livi, foi emoção mesmo. Aquele monte de gente reunida, olhando para o céu. Fiquei imaginando isso acontecendo na Idade Média. O que será que eles pensavam ao ver o dia escurecer de repente…
beijos