A tarefa cada vez mais difícil de voltar ao Brasil

Aquela sensação de estar deslocada, fora do lugar, começou no exato momento em que o comandante anunciou nossa chegada ao Rio de Janeiro. Depois de seis meses em Edimburgo, de viajar por Amsterdam, Berlim, Praga, Budapeste e Paris, o choque é inevitável, mesmo que já tenha vivido isso tantas vezes. O mais triste é constatar que nesses anos todos indo e voltando, o “meu” país não melhorou em absolutamente nada. Aquela terra maravilhosa, prometida durante as eleições do ano passado, continua sendo um sonho. Um sonho cada vez mais distante. E a saudade de lá onde eu estava, cada vez mais presente.

Edimburgo - Anoitecer - Inverno 2015

Edimburgo – Anoitecer – Inverno 2015

Eu sempre fico na dúvida em publicar um post em plena depressão pós viagem, mas acho que serve com um registro. Um triste registro. Por que eu me sinto fora do lugar? A pergunta é: como se sentir parte de um lugar onde o sentimento mais presente é o medo?

Medo do dinheiro não chegar ao fim do mês: vivi os últimos meses ganhando em real (cada vez mais abstrato) e gastando em Libras esterlinas. Cada 1libra = 5, 5.20 reais. Ou em Euros durante a viagem pelo Leste Europeu. Todos os dias, eu tinha que abrir o conversor de moedas no celular, e me chocava com a desvalorização do meu dinheirinho. Ainda assim, a conta do supermercado de um mês lá, já foi ultrapassada pelos dias que estou aqui. E claro, para muitos artigos de limpeza, e até de alimentação apelava feliz da vida para as várias lojas de “tudo a uma libra”, mesmo!

Pound Store - Edinburgh

Pound Store – Edinburgh

Além de ter percebido que vários produtos estão faltando, ir ao mercado é como entrar num trem fantasma. Cada corredor é um susto. Farmácia? Você entra para comprar um analgésico e sai com um ataque cardíaco!

Medo de sair de casa, de pegar um ônibus, de usar o que eu ralei muito para comprar: esse para mim é o principal problema. A violência. Fiquei mal acostumada mesmo. Imagine-se com duas câmeras penduradas no pescoço, um smartphone na mão, passeando por aí, tirando fotos tranquilamente, a qualquer hora? Fiz isso esses meses todos. A sensação que eu tenho aqui é que “se por acaso” eu for assaltada a culpa vai ser minha! Quem mandou pegar seu celular em público fora de um cofre-forte??? Quem mandou pegar um ônibus com esse aparelho caro na bolsa?! Ah! mas na Europa também tem roubo! Sim. Os famosos e treinadíssimos picpockets, Mas ninguém vai te abordar com uma pistola. Não vão fazer um arrastão numa praia ou parque. Pickpockets vão se aproveitar da sua distração, mas não vão te matar por um celular ou uma bicicleta. Aqui, a gente corre risco de vida! Vivemos uma guerra que mata muito todos os dias e aí?

Amsterdam - bicicletas soltas na rua

Amsterdam – bicicletas soltas na rua!

Sério. Daria para “segurar” todos os incontáveis problemas do Brasil, se não houvesse violência e insegurança. Mas como isso é consequência direta de todos os outros problemas… Continuamos sem uma solução.

E a confusão dos transportes públicos? Gente, foi mais fácil aprender onde e como comprar passe de transporte e me locomover em Budapeste (cuja língua é húngaro!) do que no Rio de Janeiro! A primeira tentativa de pegar o ônibus foi acompanhada de uma mensagem: cartão expirado! Daí foi uma gincana descobrir onde e como ressuscitar o cartão. Google Maps para saber que transporte pegar? Qual o horário que o ônibus vai passar? Pura ilusão. Para conseguir informações só um aplicativo para smartphone  com “poderes mediúnicos” .

Medo de precisar do plano de saúde: isso porque eu tenho um plano de saúde. Mas ultimamente mesmo pagando, não existe garantia de um bom atendimento. E o Brasil? Algum plano para a saúde do nosso povo???

Sinceramente? Eu adoraria ter saudades do Brasil quando estou fora, mas não tenho. Tenho saudades dos amigos, da minha casa. E minha depressão pós viagem é sempre proporcional à situação do nosso tão querido país. Cada vez mais difícil…

Desculpem o desabafo. Prometo nos próximos posts muitos relatos bem mais leves e repletos de fotos das viagens.

E você? Tem depressão pós viagem?

Siga o Mala de Rodinha e Nécessaire no Twitter @maladerodinha

Curta a nossa Fanpage no Facebook: www.facebook.com/MaladeRodinhaeNecessaire

E para ver nossas fotos no Instagram: instagram.com/celinamartins

Não se esqueça do seguro de viagem! Faz a cotação aqui. Leitor do blog tem desconto.

Mondial

 

TicketBar

6 comentários em “A tarefa cada vez mais difícil de voltar ao Brasil

  1. Sentimento bem comum viu minha querida. Eu já fiz a besteira de voltar pro Brasil uma vez, depois de morar fora e sinceramente não dá para viver com esses medos sabendo que no exterior temos uma qualidade de vida tão melhor.

    Triste é que para ter esse privilégio de viver tranquilo precisamos sair do país onde nascemos.

    Força que daqui a pouco chega o fim do ano e você volta pra a Europa!

    Beijão

    • Ai Livi!
      Eu não pertenço a essa vida! Detesto sentir medo. Não há um dia sem mortes, tiroteio e bala perdida. Em todos os lugares. Estação de metro, faculdades, ônibus… É terrivel viver assim.

  2. Oi Celina,

    Não se sinta só com esse sentimento, pois já sinto vontade de sair correndo há muito tempo. Você acompanhou minha viajem, em março pelo Insta, eu só fiquei em Amboise porque li em seu Blog, e você disse que amou a cidade e indicou, e eu amei realmente ficar lá.
    Mas voltando ao assunto, você acredita que quando cheguei no Rio ficamos quase 40 minutos esperando as malas pois a esteira estava quebrada e ficava parando, e cada parada eram quase 20′ para voltar a funcionar, incrível, depois de sair do Charles de Gaule, aquele aeroporto maravilhoso, morri de vergonha, dos Franceses reclamando e dos Brasileiros dando ataque pela demora, vontade de enterrar minha cabeça no primeiro buraco.
    Celina, as pessoas devem me achar maluca, já fui a Italia, até quero voltar, mas me sinto realmente apaixonada pela França, parece coisa de outra vida, quando cheguei lá me senti em casa, como se já conhecesse Paris, uma intimidade sabe? Rsrsrs, vai ver que foi porque li muito, eu pesquiso muito quando estou para viajar, vejo tudo antes bem certinho, não gosto de ficar boiando nos lugares a qual eu visito.
    Beijão Celina fica com Deus.

    • Obrigada Carla! Fico tão feliz qdo um post inspira uma viagem ou passeio! E sim, a França é um país onde me sinto totalmente em casa e confesso que também acho que já vivi por lá em alguma encarnação.
      Qto ao Galeão é mesmo vergonhoso! E minha deprê começa já no avião, lembrando “das boas vindas” que nos esperam no aeroporto.
      Bjs e obrigada!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado.